quinta-feira, janeiro 08, 2009

Afinal há quem se lembre...

"O líder parlamentar do PSD, Paulo Rangel, disse que o princípio da avaliação dos professores já esteve em vigor na década de 90 e que foi abolido pelo Governo socialista de António Guterres.
Durante o debate de um projecto de lei do PSD para suspender o actual modelo de avaliação, Paulo Rangel referiu que "antes dos governos PS presididos por António Guterres
existia já um modelo de avaliação e de progressão que impunha provas públicas de acesso ao topo da carreira".
"E foi, na altura, o Governo PS que terminou com essa exigência para a progressão, sem que ninguém o tivesse pedido ou reclamado", acrescentou o líder parlamentar do PSD."
que já houve avaliação de professores!!!!!! Para além de mim, da Teresa e de mais uns quantos que a ela se submeteram nos anos 90! No meu caso foi, lembro-me demasiado bem, no final do ano lectivo de 1997/98, já em Julho. No início do ano lectivo seguinte, um governo PS, acabou com esse modelo de avaliação sem que ninguém pedisse nada. Nessa altura ninguém contestou, ninguém fez greves e a Fenprof devia andar ocupada com outro tipo de acções sindicais, nada preocupada com os iluminados gananciosos que queriam aceder ao 8º escalão e prosseguir a sua carreira.
Deve ser por isto que tenho picos de tensão alta cada vez que ouço gentalha a dizer que os professores não querem é fazer nada e consequentemente serem avaliados.Até pode ser que haja uns quantos, sim. Há de tudo em todas as profissões...
Mas eu, Senhora Sinistra, não aceito que me meta também nesse saco!
E para que eu própria não me esqueça futuramente de toda esta vergonha e de quem a promoveu aqui fica um excerto de uma notícia de hoje sobre a votação de um proposta de suspensão deste fatídico modelo de avaliação.
"Com a abstenção da deputada socialista Matilde Sousa Franco, os diplomas do BE e PEV somaram 113 votos favoráveis e 114 votos contra.
Manuel Alegre, Teresa Alegre Portugal, Julia Caré e Eugénia Alho foram os quatro socialistas que votaram favoravelmente, juntando-se às bancadas da oposição, que tinham hoje todos os seus deputados presentes no momento das votações.
Votaram por isso a favor dos projectos de lei do BE e do PEV os 75 deputados do PSD, 11 do PCP, 11 do CDS-PP, 8 do BE, dois do PEV e os dois deputados não inscritos Luísa Mesquita e José Paulo de Carvalho.
No PS, que tem uma maioria absoluta de 121 deputados, faltava o deputado Victor Baptista e o presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, optou por não exercer o seu direito de voto."
PMF/IEL.

sexta-feira, novembro 21, 2008

Criancinhas

A criancinha quer Playstation. A gente dá.
A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.
A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em festim de chocolate.
A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas,umas tantas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha.
A criancinha quer camisola Adidas e ténis Nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso serdiferente.
A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando.
A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua.
Entretanto, a criancinha cresce.
Faz-se projecto de homem ou mulher.Desperta.
É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada,semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.
A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada.
A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás.
Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira.
A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca».
Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo.
A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal. Em casa, faz queixinhas,lamenta-se, chora.
Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado,correm para a escola e espetam duas bofetadas bem dadas no professor«que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu».
A criancinha cresce. Cresce e cresce.
Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias».
Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha? Pois não, bem sei.
Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo. E então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos.
Miguel Carvalho (Visão)

Soneto à maneira de Camões

"Tão mesquinha e tão vil, tu que pariste
As normas do estatuto do docente,
Não tens nada de humano, não és gente,
Nada mais que injustiças produziste.
Se lá nesse poleiro aonde subiste
O estado do ensino tens presente,
Repara como és incompetente,
Como a classe docente destruíste.
Se pensas que esta gente está domada,
Te aceita a ti, ao Valter e ao Pedreira,
Estás perfeitamente equivocada:
Em breve encontraremos a maneira
De vos correr p'ra longe à cacetada,
Limpando a educação de tanta asneira!"


Recebi esta "coisinha" gira por email, desconheço o autor.Já nem escrevo nada aqui...para quê? Todos os dias chega alguma coisa bem escrita e verdadeira sobre este triste "estado a que chegámos" (como disse o capitão Salgueiro Maia em hora de ou vai pou racha). Tenho que postar também o texto do nosso Manel.

domingo, novembro 16, 2008

Carta de um Professor aos Directores da TSF e DN

Ex.mo Sr. João Marcelino/Paulo Baldaia

Ontem entrei no carro e ouvi os últimos 15 minutos da entrevista ao nosso
primeiro ministro, exactamente no momento em que estavam a falar de educação
que era o que me interessava no momento. A custo, consegui ouvir até ao fim.
Envio-lhe o meu mais veemente lamento pela forma como a entrevista, ou o que
lhe queiram chamar, foi conduzida porquanto foi permitido ao Sr. 1º ministro
dizer o maior chorrilho de mentiras sem que alguma vez tivesse sido
corrigido. Deixaram-no passar mais uma mensagem propagandística que peca
pela verdade tal como ele nos tem habituado a ouvir a começar pelo seu
processo de habilitações literárias.
Os Srs. jornalistas TINHAM a OBRIGAÇÃO de se documentarem melhor para fazer
uma entrevista dessas. Mais pareceu uma entrevista de "faz favor de dizer"
com questões previamente combinadas porque os entrevistadores eram pessoas
experientes e deviam saber bem o que lá estavam a fazer. Só pode ter sido.
Sócrates teve a oportunidade de explicar a sua educação à sua maneira e o
resto foi servido em bandeja de ouro.
O meu nome é Francisco Teixeira Homem, sou professor na Escola Secundária
Dr. Jaime Magalhães Lima em Aveiro, tenho 34 anos de serviço.
Tenho ainda uma licenciatura de 5 anos que é verdadeira e rigorosa. Sou do
tempo em que o estágio pedagógico era de 2 anos. Fiz 1 mestrado e a parte
curricular de um 2º mestrado no tempo em que os mestrados eram 2 anos. Tirei
o doutoramento no tempo em que eram de 5 anos. Os investimentos na minha
carreira e profissão foram pagos por mim e pelo sacrifício da minha família.
Progredi na carreira com o cumprimento rigoroso de todos os créditos e subi
ao 8º escalão com provas públicas efectuadas em Coimbra nas instalações da
Direcção Regional de Educação do Centro. Não progredi com benesses até
chegar ao 10º escalão onde tenho a minha carreira congelada e a ganhar tanto
como um licenciado.
Por acaso vou ser avaliado por uma professora que é do mesmo grupo que eu
mas há casos de professores de História a avaliar os de Inglês, de Educação
Física a avaliar os de Educação Visual ou Educação Especial, de Biologia a
avaliar os de Matemática... enfim!!!!
Quando um professor destes vai assistir a uma aula dos outros (e tem de o
fazer 2 vezes) está a ser justo por mais que o queira? Haverá honestidade
neste processo?
Não me licenciei a um domingo com 26 das 31 cadeiras em falta dadas como
equivalentes, nem com professores amigos ou reitores presos por falsificação
de documentos, nem com a utilização de cartões do governo. A minha
Universidade é pública, do Porto, e podem ser consultados todos os meus
documentos. Não foi encerrada, como a UNI, só Deus sabe, VERDADEIRAMENTE
porquê.
O Sr. JS mente quando diz que agora há o mérito de distinguir os professores
excelentes dos outros. Uma pessoa cujo percurso académico cheio de falta de
rigor, mérito e excelência não lhe oferece a mais pequena moralidade para
pensar sequer nisso, quanto mais falar. Desculpe voltar a falar disto mas é
uma VERDADE que anda a ser camuflada e continuamente escondida.
A criação INJUSTA do professor titular no ECD é a MAIOR FRAUDE que passou
impune em Portugal. Os professores foram classificados APENAS pelos últimos
7 anos de profissão, não pelos conhecimentos mas pelos cargos exercidos.
Imagina certamente o que eu com 34 anos de serviço deva ter prestado ao
ensino como professor. Pois bem, 27 desses meus anos contaram ZERO.
RIGOROSAMENTE... ZERO.
Aqueles anos em que quando mais jovem tinha capacidade para fazer e vontade
para tudo, contaram NADA. Não sei quantos anos de serviço tem o Sr. João
Marcelino/Paulo Baldaia mas diga-me como se sentiria se a sua classificação
fosse feita apenas com base nos últimos 7 anos, não pelos seus conhecimentos
e capacidade mas APENAS pelas funções que prestou. Há professores belíssimos
que foram prejudicados por terem querido ensinar. Há escolas onde ficaram
titulares professores com 86 pontos enquanto outras escolas professores com
130 pontos não o conseguiram ser.
UMA VERGONHA que a imprensa nunca soube (ou nunca quis) denunciar. A escola
hoje deixou de ENSINAR. O próprio ministério deixou de ser o Ministério da
Educação e passou a ser o Ministério da Certificação. Faça esta experiência.
Vá a uma escola e diga que se quer matricular para APRENDER. Para
APRENDER!!!!
Não há como nem onde. Até com o sistema de créditos já acabaram. Mandam-no
para os EFAs ou para as Novas Oportunidades. Veja o que isso é. O que lá se
aprende.
Em quantos MESES se pode fazer ao mesmo tempo o 7º, 8º e 9º ano e depois o
10º, 11º e 12º ano. Acabaram com o "Ad Hoc", agora há o "mais 23".
Compare-os.
Agora, com a apresentação do currículo e a entrevista, um candidato ao
ensino universitário fica logo com 60%. Os "trocos" ficam depois para um
exame muito mais SIMPLIFICADO.O Sr. JS falou nos cursos profissionais.
Vá a uma escola e veja o que é isso de cursos profissionais. A verdade. E já
agora os CEFs. A pressão permanente para que os alunos passem sem saber
apenas e só para uma avaliação estatística. As permanentes lamúrias da Sr.ª
ministra nos custos de uma reprovação e no facilitismo em reprovar.
Agora na avaliação dos professores é contabilizado o n.º de alunos
reprovados numa vergonhosa e clara afronta à perda de independência. Que
culpa tenho eu que no início do ano me tenha calhado uma turma mal-educada e
pouco estudiosa? Que culpa tenho eu que um aluno abandone a escola porque
quer ir trabalhar ou não gosta de estudar ainda que tudo tenha feito com os
pais para que tal não aconteça? PORQUÊ isso se reflecte na avaliação?
Já alguma vez pediu a uma escola as fichas de avaliação? Não acredito,
desculpe mas não acredito que alguma vez as tenha visto. É IMPOSSÍVEL que
aquilo possa ser seguido, IMPOSSÍVEL. Se não as conhece procure ver algumas.
Os professores o melhor é deixarem de dar aulas. A Cada escola tem as suas
grelhas de avaliação. São 3 grelhas, qual delas a melhor, sempre elaboradas
da forma mais incrível, injusta, desadequada, complexa, pouco credível e
acima de tudo inexequível.
Isto não é uma brincadeira?
Os professores não têm família e direito ao tempo livre e lazer? JS falou
igualmente no Inglês e na Educação Física das escolas primárias que já havia
antes dele.
Pergunte quanto ganham esses professores e compare com o que ganha uma
empregada doméstica, sem qualquer desprestígio para as empregadas
domésticas.
Sr. João Marcelino/Paulo Baldaia, peço-lhe desculpa se me excedi. Penso que
não. Acredito que com algumas destas "dicas", futuras entrevistas suas ao
sr. JS serão diferentes. A verdade é que andamos de tal forma a ser
maltratados e enxovalhados com tanta MENTIRA que após o programa da TSF que
é uma rádio que oiço sempre, senti necessidade de "desentupir".
É estranho, muito estranho mesmo que a certas pessoas seja permitido faze
passar incolumemente certas mensagens. E o Sr. primeiro-ministro é uma
delas. Usa e abusa.
Este foi o direito à minha INDIGNAÇÃO.
Queira aceitar os meus mais respeitosos cumprimentos

O professor Francisco Teixeira Homem

quarta-feira, novembro 12, 2008

E peço desculpa por ter votado da última vez. Sério, colegas, desculpem-me! Estou tão arrependiiiiiiiiiiiddddddddaaaaaaaaaaaaa!

quarta-feira, novembro 05, 2008

Intencional/mente

Há um primeiro-ministro que mente,

Mente de corpo e alma, completa/mente.

E mente de maneira tão pungente

Que a gente acha que ele, mente sincera/mente,

Mas que mente, sobretudo, impune/mente...

Indecente/mente.

E mente tão nacional/mente,

Que acha que mentindo história afora,

Nos vai enganar eterna/mente.

( Recebido por email sem indicação de autor)

A Imprensa americana dizia hoje...

Com o título "Obama, as barreiras raciais caem com uma vitória decisiva", o New York Times considerou que "é um desses momentos da História que merece que nos detenhamos nele, para analisar os fatos"."Um americano cujo nome é Barack Hussein Obama, filho de uma mulher branca e de um homem negro que ele apenas conheceu, e criado por seus avós longe (do continente americano), foi eleito o 44º presidente dos Estados Unidos (...) Seu triunfo foi decisivo e inapelável, porque ele viu o que estava errado neste país: o fracasso do governo em proteger os cidadãos", acrescentou o jornal nova-iorquino, que havia apoiado Obama durante a campanha eleitoral.
Para o Washington Post, a vitória decisiva de Barack Obama ilustra "os progressos" realizados nos Estados Unidos nas relações entre as diferentes comunidades raciais e étnicas."Quando apoiamos Obama, nós não mencionamos a raça, pela simples razão de que ela não tinha importância em nossa decisão. Obama era simplesmente o melhor dos dois candidatos", escreveu o jornal."Mas a raça é particularmente importante neste momento. Como os americanos não poderiam ficar emocionados" com a eleição de um presidente negro?...Obama nasceu em uma época (1961) em que vários estados teriam proibido o casamento entre sua mãe branca do Kansas e seu pai negro do Quénia. Poucas pessoas na época e, na verdade, poucas pessoas ainda há alguns anos, conseguiram prever a ascensão de um negro à Casa Branca….Obama não poderá apagar a herança de Bush", acrescenta o Post, "mas há uma chance de melhorar a posição da América no mundo, pondo fim a práticas condenáveis, como a tortura".
Felicitando Obama por sua vitória, o Wall Street Journal (conservador) afirma que os americanos "puniram os republicanos por seu fracasso económico".O diário de negócios destaca a qualidade da campanha realizada por Obama, explicando que a sua vitória se deve em parte a sua "eloquência" e ao seu "charme fora do comum"."É algo que jamais ocorreu em um outro país ocidental", frisa o jornal, "apesar do desdém europeu em relação à América 'racista'".
Para o Los Angeles Times, que intitula "Vitória de Obama, um mandato para a mudança", "nós merecemos saborear este momento"."O racismo em nossa história é um facto real, doloroso e longe de estar resolvido, mas nossos progressos são também inegáveis e manifestaram-se na terça-feira à noite", escreve o grande diário californiano.
"A satisfação da vitória de Barack Obama ressoa no mundo inteiro, emocionando a Europa e a África, os países pobres e os países ricos, da mesma maneira que emociona nossa alma nacional"
O Washington Times, jornal ultraconservador, indica que a vitória de Obama mostra que "os progressos extraordinários no âmbito racial feitos pelos Estados Unidos são inegáveis"."De alguma forma, sua vitória, depois de ter obtido milhões de votos de americanos de todas as raças e grupos étnicos, representa uma vitória para a nação.”

segunda-feira, outubro 20, 2008

"Si vous trouvez que l'éducation coûte cher, essayez l'ignorance".

Abraham Lincoln

terça-feira, outubro 14, 2008

Carta de uma mãe preocupada

Sr. Engº José Sócrates
Antes de mais, peço desculpa por não o tratar por Excelência nem por Primeiro-Ministro, mas, para ser franca, tenho muitas dúvidas quanto ao facto de o senhor ser excelente e, de resto, o cargo de primeiro-ministro parece-me, neste momento, muito pouco dignificado.
Também queria avisá-lo de antemão que esta carta vai ser longa, mas penso que não haverá problema para si, já que você é do tempo em que o ensino do Português exigia grandes e profundas leituras. Ainda pensei escrever tudo por tópicos e com abreviaturas, mas julgo que lhe faz bem recordar o prazer de ler um texto bem escrito, com princípio, meio e fim, e que, quiçá, o faça reflectir (passe a falta de modéstia).
Gostaria de começar por lhe falar do 'Magalhães'. Não sobre os erros ortográficos, porque a respeito disso já o seu assessor deve terr ecebido um e-mail meu. Queria falar-lhe da gratuitidade, da inconsequência, da precipitação e da leviandade com que o senhor engenheiro anunciou e pôs em prática o projecto a que chama de e-escolinha.O senhor fala em Plano Tecnológico e, de facto, eu tenho visto a tecnologia, mas ainda não vi plano nenhum. Senão, vejamos a cronologia dos factos associados ao projecto 'Magalhães':
No princípio do mês de Agosto, o senhor engenheiro apareceu na televisão a anunciar o projecto e-escolinhas e a sua ferramenta: o portátil Magalhães.. No dia 18 de Setembro (quinta-feira) ao fim do dia, o meu filho traz na mochila um papel dirigido aos encarregados de educação, com apenas quatro linhas de texto informando que o 'Magalhães' é um projecto do Governo e que, dependendo do escalão de IRS, o seu custo pode variar entre os zero e os 50 euros. Mais nada! Seguia-se um formulário com espaço para dados como nome do aluno, nome do encarregado de educação, escola, concelho, etc. e, por fim, a oportunidade de assinalar, com uma cruzinha, se pretendemos ou não adquirir o 'Magalhães'.. No dia 22 de Setembro (segunda-feira), ao fim do dia, o meu filho traz um novo papel, desta vez uma extensa carta a anunciar a visita,no dia seguinte, do primeiro-ministro para entregar os primeiros 'Magalhães' na EB1 Padre Manuel de Castro. Novamente uma explicação respeitante aos escalões do IRS e ao custo dos portáteis.. No dia 23 de Setembro (terça-feira), o meu filho não traz mais papéis, traz um 'Magalhães' debaixo do braço.Ora, como é fácil de ver, tudo aconteceu num espaço de três dias úteis em que as famílias não tiveram oportunidade de obter esclarecimentos sobre a futura utilização e utilidade do 'Magalhães'. Às perguntas que colocámos à professora sobre o assunto, ela não soube responder. Reunião de esclarecimento, nunca houve nenhuma. Portanto, explique-me, senhor engenheiro: o que é que o seu Governo pensou para o 'Magalhães'? Que planos tem para o integrar nas aulas? Como vai articular o seu uso com as matérias leccionadas? Sabe, é que 50 euros talvez seja pouco para se gastar numa ferramenta de trabalho, mas, decididamente, e na minha opinião, é demasiado para se gastar num brinquedo. Por favor, senhor engenheiro, não me obrigue a concluir que acabei de pagar por uma inutilidade, um capricho seu, uma manobra de campanha eleitoral, um espectáculo de fogo de artifício do qual só sobra fumo e o fedor intoxicante da pólvora.Seja honesto com os portugueses e admita que não tem plano nenhum.Admita que fez tudo tão à pressa que nem teve tempo de esclarecer as escolas e os professores. E não venha agora dizer-me que cabe aos pais aproveitarem esta maravilhosa oportunidade que o Governo lhes deu e ensinarem os filhos a lidar com as novas tecnologias. O seu projecto chama-se e-escolinha, não se chama e-familiazinha! Faça-lhe jus!Ponha a sua equipa a trabalhar, mexa-se, credibilize as suas iniciativas!Uma coisa curiosa, senhor engenheiro, é que tudo parece conspirar a seu favor nesta sua lamentável obra de empobrecimento do ensino assente em medidas gratuitas.Há dias arrisquei-me a ver um episódio completo da série Morangos com Açúcar. Por coincidência, apanhei precisamente o primeiro episódio da nova série que significa, na ficção, o primeiro dia de aulas daquela miudagem. Ora, nesse primeiro dia de aulas, os alunos conheceram a sua professora de matemática e o seu professor de português. As imagens sucediam-se alternando a aula de apresentação de matemática por contraposição à de português. Enquanto a professora de matemática escrevia do quadro os pressupostos da sua metodologia - disciplina,rigor e trabalho - o professor de português escrevia no quadro os pressupostos da sua - emoção, entrega e trabalho. Ora, o que me faz espécie, senhor engenheiro, é que a personagem da professora de matemática é maldosa, agressiva e antiquada, enquanto que o professorde português é um tipo moderno e bué de fixe. Então, de acordo com os princípios do raciocínio lógico, se a professora de matemática é maldosa e agressiva e os seus pressupostos são disciplina e rigor,então a disciplina e o rigor são coisas negativas. Por outro lado, se o professor de português é bué de fixe, então os pressupostos da emoção e da entrega são perfeitos. E de facto era o que se via.Enquanto que na aula de matemática os alunos bufavam, entediados, na aula de português sorriam, entusiasmados. Disciplina e rigor aparecem, assim, como conceitos inconciliáveis com emoção e entrega, e isto é a maior barbaridade que eu já vi na minha vida. Digo-o eu, senhor engenheiro, que tenho uma profissão que vive das emoções, mas onde o rigor é 'obstinado', como dizem os poetas. Eu já percebi que o ensino dos dias de hoje não sabe conciliar estes dois lados do trabalho. E, não o sabendo, optou por deixar de lado a disciplina e o rigor. Os professores são obrigados a acreditar que para se fazer um texto criativo não se pode estar preocupado com os erros ortográficos. E que para se saber fazer uma operação aritmética não se pode estar preocupado com a exactidão do seu resultado. Era o que faltava, senhor engenheiro!Agora é o momento em que o senhor engenheiro diz de si para si: mas esta mulher é um Velho do Restelo, que não percebe que os tempos mudaram e que o ensino tem que se adaptar a essas mudanças? Percebo,senhor engenheiro. Então não percebo? Mas acontece que o que o senhor engenheiro está a fazer não é adaptar o ensino às mudanças, você está a esvaziá-lo de sentido e de propósitos. Adaptar o ensino seria afinar as metodologias por forma a torná-las mais cativantes aos olhos de uma geração inquieta e voltada para o imediato. Mas nunca diminuir, nunca desvalorizar, nunca reduzir ao básico, nunca baixar a bitola até aonível da mediocridade. Mas, por falar em Velho do Restelo...... Li, há dias, numa entrevista com uma professora de Literatura Portuguesa, que o episódio do Velho do Restelo foi excluído do estudo d'Os Lusíadas. Curioso, porque este era o episódio que punha tudo em causa, que questionava, que analisava por outra perspectiva, que é algo que as crianças e adolescentes de hoje em dia estão pouco habituados a fazer. Sabem contrariar, é certo, mas não sabem questionar. São coisas bem diferentes: contrariar tem o seu quê de gratuito; questionar tem tudo de filosófico. Para contrariar, basta bater o pé. Para questionar, é preciso pensar.Tenho pena, porque no meu tempo (que não é um tempo assim tão distante), o episódio do Velho do Restelo, juntamente com os de Inês de Castro e da Ilha dos Amores, era o que mais apaixonava e empolgava a turma. Eram três episódios marcantes, que quebravam a monotonia do discurso de engrandecimento da nação e que, por isso, tinham o mérito de conseguir que os alunos tivessem curiosidade em descodificar as suas figuras de estilo e desbravar o hermetismo da linguagem. Ainda hoje me lembro exactamente da aula em que começámos a ler o episódio de Inês de castro e lembro-me das palavras da professora Lídia,espicaçando-nos, estimulando-nos, obrigando-nos a pensar. E foi há 20anos. Bem sei que vivemos numa era em que a imagem se sobrepõe à palavra, mas veja só alguns versos do episódio de Inês de Castro, veja que perfeita e inequívoca imagem eles compõem: 'Estavas, linda Inês, posta em sossego,De teus anos colhendo doce fruito,Naquele engano d'alma ledo e cego,Que a fortuna não deixa durar muito (...)'Feche os olhos, senhor engenheiro, vá lá, feche os olhos. Não consegue ver, perfeitamente desenhado e com uma nitidez absoluta, o rosto branco e delicado de Inês de Castro, os seus longos cabelos soltos pelas costas, o corpo adolescente, as mãos investidas num qualquer bordado, o pensamento distante, vagueando em delícias proibidas no leito do príncipe? Não vê os seus olhos que de vez em quando escapam às linhas do bordado e vão demorar-se na janela, inquietos de saudade,à espera de ver D. Pedro surgir a galope na linha do horizonte? Eagora, se se concentrar bem, não vê uma nuvem negra a pairar sobre ela, não vê o prenúncio do sangue a escorrer-lhe pelos fios de cabelo?Não consegue ver tudo isto apenas nestes quatro versos?Pois eu acho estes quatro versos belíssimos, de uma simplicidade arrebatadora, de uma clareza inesperada. É poesia, senhor engenheiro,é poesia! Da mais nobre, grandiosa e magnífica que temos na nossaHistória. Não ouse menosprezá-la. Não incite ninguém a desrespeitá-la.Bem, admito que me perdi em divagações em torno da Inês de Castro. O que eu queria mesmo era tentar perceber por que carga de água o Velhodo Restelo desapareceu assim. Será precisamente por estimular adiferença de opiniões, por duvidar, por condenar? Sabe, não tarda muito, o episódio da Ilha dos Amores será também excluído dos conteúdos programáticos por 'alegado teor pornográfico' e o de Inês deCastro igualmente, por 'incitamento ao adultério e ao desrespeito pela autoridade'.Como é, senhor engenheiro? Voltamos ao tempo do 'lápis' azul? E já agora, voltando à questão do rigor e da disciplina, da entrega e da emoção: o senhor engenheiro tem ideia de quanta entrega e de quanta emoção Luís de Camões depôs na sua obra? E, por outro lado, o senhor engenheiro duvida da disciplina e do rigor necessários à sua concretização? São centenas e centenas de páginas, em dezenas de capítulos e incontáveis estrofes com a mesma métrica, o mesmo tipo der ima, cada palavra escolhida a dedo... o que implicou tudo isto senão uma carga infinita de disciplina e rigor?Senhor engenheiro José Sócrates: vejo que acabo de confiar o meu filho ao sistema de ensino onde o senhor montou a sua barraca de circo e não me apetece nada vê-lo transformar-se num palhaço. Bem, também não quero ser injusta consigo. A verdade é que as coisas já começarama descarrilar há alguns anos, mas também é verdade que você está a sobrealimentar o crime, com um tirinho aqui, uma facadinha ali, uma desonestidade acolá.Lembro-me bem da época em que fiz a minha recruta como jornalista e das muitas vezes em que fui cobrir cerimónias e eventos em que você participava. Na altura, o senhor engenheiro era Secretário de Estado do Ambiente e andava com a ministra Elisa Ferreira por esse Portugal fora, a inaugurar ETAR's e a selar aterros. Também o vi a plantar árvores, com as suas próprias mãos. E é por isso que me dói que agora,mais de dez anos depois, você esteja a dar cabo das nossas sementes e a tornar estéreis os solos que deveriam ser férteis.Sabe, é que eu tenho grandes sonhos para o meu filho. Não, não me refiro ao sonho de que ele seja doutor ou engenheiro. Falo do sonho de que ele respeite as ciências, tenha apreço pelas artes, almeje a sabedoria e valorize o trabalho. Porque é isso que eu espero da escola. O resto é comigo.Acho graça agora a ouvir os professores dizerem sistematicamente aos pais que a família deve dar continuidade, em casa, ao trabalho que a escola faz com as crianças. Bem, se assim fosse eu teria que ensinar o meu filho a atirar com cadeiras à cabeça dos outros e a escrever a sredacções em linguagem de sms. Não. Para mim, é o contrário: a escola é que deve dar continuidade ao trabalho que eu faço com o meu filho. Acho que se anda a sobrevalorizar o papel da escola. No meu tempo, a escola tinha apenas a função de ensinar e fazia-o com competência e rigor. Mas nos dias que correm, em que os pais não têm tempo nem disposição para educar os filhos, exige-se à escola que forme o seu carácter e ocupe todo o seu tempo livre. Só que infelizmente ela tem cumprido muito mal esse papel.A escola do meu tempo foi uma boa escola. Hoje, toda a gente sabe que a minha geração é uma geração de empreendedores, de gente criativa e com capacidade iniciativa, que arrisca, que aposta, que ambiciona. E não é disso que o país precisa? Bem sei que apanhámos os bons ventos da adesão à União Europeia e dos fundos e apoios que daí advieram, mas isso por si só não bastaria, não acha? E é de facto curioso: tirando o Marco cigano, que abandonou a escola muito cedo, e a Fatinha que andava sempre com ranhoca no nariz e tinha que tomar conta de três irmãos mais novos, todos os meus colegas da primária fizeram alguma coisa pela vida. Até a Paulinha, que era filha da empregada (no meu tempo dizia-se empregada e não auxiliar de acção educativa, mas,curiosamente, o respeito por elas era maior), apesar de se ter ficado pelo 9º ano, não descansou enquanto não abriu o seu próprio Pão Quente e a ele se dedicou com afinco e empenho. E, no entanto, levámos reguadas por não sabermos de cor as principais culturas das ex-colónias e éramos sujeitos a humilhação pública por cada erro ortográfico. Traumatizados? Huuummm... não me parece. Na verdade,senhor engenheiro, tenho um respeito e uma paixão pela escola tais que, se tivesse tempo e dinheiro, passaria o resto da minha vida a estudar.Às vezes dá-me para imaginar as suas conversas com os seus filhos (nem sei bem se tem um ou dois filhos...) e pergunto-me se também é válido para eles o caos que o senhor engenheiro anda a instalar por aí.Parece que estou a ver o seu filho a dizer-lhe: ó pai, estou com dificuldade em resolver este sistema de três equações a três incógnitas... dás-me uma ajuda? E depois, vejo-o a si a responder coma sua voz de homilia de domingo: não faz mal, filho... sabes escrever o teu nome completo, não sabes? Então não te preocupes, é perfeitamente suficiente...Vendo as coisas assim, não lhe parece criminoso o que você anda a fazer?E depois, custa-me que você apareça em praça pública acompanhado da sua Ministra da Educação, que anda sempre com aquele ar de infeliz, de quem comeu e não gostou, ambos com o discurso hipócrita do mérito dos professores e do sucesso dos alunos, apoiados em estatísticas cuja real interpretação, à luz das mudanças que você operou, nos apresenta uma monstruosa obscenidade. Ofende-me, sabe? Ofende-me por me tomar por estúpida.Aliás, a sua Ministra da Educação é uma das figuras mais desconcertantes que eu já vi na minha vida. De cada vez que ela fala,tenho a sensação que está a orar na missa de sétimo dia do sistema de ensino e que o que os seus olhos verdadeiramente dizem aos pais deste Portugal é apenas 'os meus sentidos pêsames'.Não me pesa a consciência por estar a escrever-lhe esta carta. Sabe, é que eu não votei em si para primeiro-ministro, portanto estou à vontade. Eu votei em branco. Mas, alto lá! Antes que você peça ao seu assessor para lhe fazer um discurso sobre o afastamento dos jovens da política, lembre-se, senhor engenheiro: o voto em branco não é o voto da indiferença, é o voto da insatisfação! Mas, porque vos é conveniente, o voto em branco é contabilizado, indiscriminadamente,com o voto nulo, que é aquele em que os alienados desenham macaquinhos e escrevem obscenidades.Você, senhor engenheiro, está a arriscar-se demasiado. Portugal está prestes a marcar-lhe uma falta a vermelho no livro de ponto. Ah...espere lá... as faltas a vermelho acabaram... agora já não há castigos...Bem, não me vou estender mais, até porque já estou cansada de repetir 'senhor engenheiro para cá', 'senhor engenheiro para lá'. É que o meu marido também é engenheiro e tenho receio de lhe ganhar cisma.Esta carta não chegará até si. Vou partilhá-la apenas e só com os meus E-leitores (sim, sim, eu também tenho os meus eleitores) e talvez só por causa disso eu já consiga hoje dormir melhor. Quanto a si, tenho dúvidas.Para terminar, tenho um enorme prazer em dedicar-lhe, aqui, uma estrofe do episódio do Velho do Restelo. Para que não caia no esquecimento. Nem no seu, nem no nosso.'A que novos desastres determinas De levar estes Reinos e esta gente?Que perigos, que mortes lhe destinas,Debaixo dalgum nome preminente?Que promessas de reinos e de minas de ouro, que lhe farás tão facilmente?Que famas lhe prometerás? Que histórias?Que triunfos? Que palmas? Que vitórias? '
Atenciosamente e ao abrigo do artigo nº 37 da Constituição daRepública Portuguesa,
Uma mãe preocupada

Nota- Esta carta chegou-me por email. Desconheço a autora, mas assino em baixo.
Uma professora preocupada

domingo, setembro 28, 2008

Leitura de Verão-2008

Protocolo de Quioto
Japão 1997

“O que aconteceu em Quioto foi que a maior parte dos países desenvolvidos assumiu o compromisso solene de, até 2012, reduzir as emissões globais de dióxido de carbono para valores inferiores aos de 1990. Havia sinais de que o planeta estava a aquecer devido à queima de combustíveis fósseis* e Quioto assinalou a vontade internacional de controlar a situação. (…)
Mas houve alguns peritos que participaram nessa conferência e que se aperceberam de que tudo aquilo não passava de fachada. Por pequenos pormenores de conversas entre delegações e pela forma como cada delegação enunciava generosas intenções gerais, mas evitava comprometer-se em medidas específicas que envolvessem custos, esses especialistas chegaram à conclusão de que, na hora da verdade, os políticos iriam roer a corda e adiar o problemas, atirá-lo para os seus sucessores (…). É que o essencial dos cortes das emissões de dióxido de carbono recaiu sobre o mundo industrializado. A União Europeia comprometeu-se a reduzir as suas emissões em 8%, o Japão em 6% e os Estados Unidos, que são o maior emissor de dióxido de carbono, em 7%. (…)
Havia três problemas.
O primeiro é que os Americanos não se atreviam a enfrentar os interesses instalados. Cortar na emissão de dióxido de carbono significa atacar três indústrias de grande importância na América: a indústria petrolífera, a indústria automóvel e a indústria do carvão.
O segundo era aqui na Rússia. O aquecimento global é uma catástrofe para muitos países, mas não para este. Aqui na Sibéria, por exemplo, os Invernos moderados e curtos só têm vantagens agrícolas. Além disso se a tundra** derreter, será mais fácil e barato explorar o petróleo russo do Árctico. O gelo fica mais fino e as perfurações tornam-se mais simples. Ora o petróleo corresponde a um terço das exportações da Rússia, pelo que este país, que é o terceiro maior emissor mundial de dióxido de carbono, não tem interesse nenhum em pôr fim ao aquecimento do planeta.
Mas havia ainda um terceiro problema. Quioto conferiu muitas obrigações ao mundo industrializado, que é quem emite a maior parte do dióxido de carbono, mas ignorou os países em vias de desenvolvimento. (…)
Acontece que achina e a Índia estão determinadas a quebrar as barreiras do desenvolvimento. Durante décadas, a China de Mao Tsé Tung, alimentou um imenso desprezo pela indústria automóvel, que considerava um símbolo da burguesia decadente. Toda a gente andava a pé ou de bicicleta e a pobreza era generalizada. Mas quando Mao desapareceu*** as coisas mudaram. A nova liderança chinesa percebeu que precisava de gerar crescimento económico e o país começou a valorizar o que antes desprezava. Os Chineses produziram e venderam automóveis pela primeira vez em 2002, entrando num tal frenesim consumista que a General Motors previu que um quinto da sua produção iria ser canalizada para o mercado chinês, ao ponto de o país ter agora sete das dez cidades mais poluídas do mundo. Milhões e milhões de chineses consideram agora que ter um automóvel é um símbolo de estatuto social. São mais de mil milhões de pessoas a querer andar de automóvel, são mais de mil milhões de pessoas a querer consumir combustível, são mais de mil milhões de pessoas a emitir enormes quantidades de dióxido de carbono para a atmosfera. A China já ultrapassou os países industrializados na procura de electricidade e de combustíveis industriais e o país é, neste momento, o segundo maior consumidor de energia do mundo. (…) Agora junta à China todos os países que se querem desenvolver. Junta a Índia, a Rússia e a América Latina. Todos a quererem automóveis, frigoríficos, ar condicionado, televisores…tudo! Imagina o impacto que isto tem na produção de calor e no consumo dos recursos energéticos existentes. Nós caminhamos alegremente para a catástrofe, aceleramos na auto-estrada do suicídio e nem sequer nos apercebemos disso.


O Aquecimento Global

O aquecimento dos últimos cinquenta anos duplicou de intensidade em relação aos últimos cem anos e o nível do mar subiu dezassete centímetros no século XX. Chove mais no Leste do continente americano e no Norte da Europa e chove menos no Sul da Europa, em África e na Ásia. Desde a década de 1970 que aumentou a actividade dos ciclones no Atlântico Norte e em 2005 apareceu o primeiro furacão na costa ocidental da Europa, o Vince, que entrou no Norte de Portugal já como tempestade tropical. Desde que há registos meteorológicos, nunca se tinha visto um furacão nessas paragens. E o mesmo se passa no Atlântico Sul. Um furacão chamado Catarina cruzou a costa brasileira em 2004, um fenómeno tão inédito que os meteorologistas brasileiros levaram algum tempo a acreditar no que as fotografias por satélite lhes mostravam. E o pior é que o clima poderá estar à beira de cruzar um valor crítico. Um valor para lá do qual são desencadeados fenómenos que vão tornar inabitáveis importantes partes do planeta. (…)

A grande maioria dos glaciares está a arder. Os glaciares dos Alpes já perderam cinquenta por cento do seu gelo e os dos Andes triplicaram a velocidade de recuo, diminuindo um quarto da sua superfície em apenas três décadas. A temperatura no solo do Alasca aumentou no século XX entre dois e cinco graus Célsius e nove estações do Árctico registaram subidas da temperatura da superfície da ordem dos cinco graus Célsius. O aquecimento global já provocou a desintegração de cinco das nove plataformas de gelo existentes na Península da Antárctida. A Gronelândia e o planalto tibetano registam fenómenos semelhantes.”

In “ O Sétimo Selo”, José Rodrigues dos Santos

Carta Aberta de um colega

CARTA ABERTA AOS MEUS COLEGAS PROFESSORES
"Pela primeira vez em muitos anos não retomo a actividade docente no início do ano lectivo. Mas não o lamento e é isso que me dói. Sempre disse que queria ficar na escola mais alguns anos para além do tempo da reforma, desde que tivesse condições de saúde para tal. Contudo, vi-me 'obrigado' a sair mais cedo, inclusive aceitando uma Não sou protagonista de nada: o meu caso é apenas mais um no meio de milhares de professores a quem este Governo afrontou. Só quem não conhece as escolas e tem uma ideia errada da função docente é que não entende isto.
É doloroso ouvir pessoas que sempre deram o máximo pela sua profissão, que amam o ensino e têm uma ligação profunda com os alunos, a dizerem que estão exaustas e que lamentam não serem mais velhas para poderem reformar-se já. Vejo com enorme tristeza estes colegas a entrarem no ano lectivo como quem vai para um exílio. Compreendo-os bem…
Este estado de coisas tem responsáveis: são a equipa do Ministério da Educação e o Primeiro-ministro.
A eles se deve a criação de um enorme factor de desestabilização e conflito nas escolas que é a divisão artificial da carreira docente entre 'professores titulares' e os outros que o não são. Todos fazem o mesmo, a todos são pedidas as mesmas responsabilidades, mas estão em patamares diferentes, definidos segundo critérios arbitrários.
A eles se deve um sistema de avaliação de desempenho que não é mais do que a extensão administrativa daquele erro colossal.
A eles se deve a legislação que não reforça a autoridade dos professores na escola, antes os transforma em burocratas ao serviço de encarregados de educação a quem não se pedem responsabilidades e de alunos a quem não se exige que estudem e tenham sucesso por mérito próprio.
No ano passado 100 000 mil professores na rua mostraram que não se conformavam com este estado de coisas. O Governo tremeu. Mas os Sindicatos de Professores não souberam gerir esta revolta legítima. Ocupados por gente que não dá aulas, funcionalizados e alienados pelo sistema, apressaram-se a assinar um acordo que nada resolveu, antes adiou um problema que vai inquinar o ano lectivo que hoje começa.
Todos os que podem estão a vir-se embora das escolas, é a debandada geral. Gente com a experiência e a formação profissional de muitos anos, que ainda podiam dar tanto ao ensino, retiram-se desgostosos, desiludidos, magoados. Deixaram de acreditar que a sua presença era importante e bateram com a porta. O Governo não se importa, nada faz para os segurar: eram gente que tinha espírito crítico e resistia. «Que se vão embora, não fazem cá falta nenhuma!»
Não, não tenho pena de não voltar à escola. Pelo contrário: entro em Setembro com um enorme alívio. Mas não me sinto bem. Estou profundamente solidário com os meus colegas de profissão e tenho a estranha sensação de que os abandonei, embora saiba quanto isso é pretensioso da minha parte. Vejo com apreensão e desgosto que, trinta e sete anos depois de começar a ser professor, a escola não está melhor.
Sim, regressarei hoje à escola. Mas só para dar um imenso abraço àqueles que, corajosamente, como professores no activo, enfrentam um novo ano lectivo."

Torres Vedras, 1 de Setembro de 2008

Joaquim Moedas Duarte

Desabafos alheios

Aos meus alunos, aos Pais dos meus alunos, aos professores e a todos os meus concidadãos

"Tenho cinquenta e tal anos de idade, trinta e muitos dos quais como docente no ensino secundário e no ensino superior.
Fiz a Licenciatura com 16 valores, o Estágio Pedagógico com 18 e um mestrado em Ciências da Educação com Muito Bom.
Dediquei a minha vida à Escola Pública. Fui Presidente do Conselho Executivo (dois mandatos), orientador de estágio pedagógico (3 anos), delegado de grupo / coordenador de departamento (dois mandatos), Presidente do Conselho Pedagógico (um mandato) e director de turma durante vários anos.
Nos últimos tempos leccionei no ensino superior, com ligação permanente à formação de professores. Desempenhei vários cargos pedagógicos, participei em múltiplos projectos e desenvolvi dois trabalhos de elevado valor científico.
Entretanto, regressei ao ensino secundário e à minha escola de origem.
Alguns dos antigos colegas, embora mais novos do que eu e com menos tempo de serviço (compraram o tempo, explicaram-me depois) já se tinham reformado. Eu também já tinha idade, mas faltavam-me alguns meses para o tempo necessário quando mudaram as regras do jogo. E como se não bastasse a alteração dessas regras, é aprovado, entretanto, um novo estatuto para a carreira docente. E logo de seguida é aberto o concurso para professores titulares. Um concurso para uma nova categoria onde eu não tinha lugar!
Não reunia condições. Mesmo com um Mestrado em Ciências da Educação e sem ter dado uma única falta nos últimos sete anos, o meu curriculum valia, apenas, 93 pontos! Faltavam 2 pontos para o mínimo exigido a quem estivesse no 10º escalão.
Com as novas regras, o meu departamento passou a ser coordenado, a partir do presente ano lectivo, por um professor titular. Um professor que está posicionado no 8º escalão. Tem menos 15 anos de serviço do que eu. Foi meu aluno no ensino secundário e, mais tarde, meu estagiário. Fez um bacharelato com média de 10 valores e no estágio pedagógico obteve a classificação de 11 valores. Recentemente concluiu a licenciatura numa estabelecimento de ensino privado, desconhecendo a classificação obtida. É um professor que nunca exerceu qualquer cargo pedagógico, à excepção de director de turma. Nos últimos sete anos deu 84 faltas, algumas das quais para fazer 15 dias de férias na República Dominicana (o atestado médico que utilizou está arquivado na secretaria da escola, enquanto os bilhetes do avião e a factura do hotel constam de um outro processo localizável). O seu curriculum vale 84 pontos, menos 9 pontos do que o meu. Contudo, este docente foi nomeado professor titular.
De acordo com o Senhor Primeiro Ministro e demais membros do seu Governo, com o apoio do Senhor Presidente da República e, agora, com o apoio dos dirigentes sindicais, este professor está em melhores condições do que eu para integrar " (...) um corpo de docentes altamente qualificado, com mais experiência, mais formação e mais autoridade, que assegure em permanência as funções de organização das escolas para a promoção do sucesso educativo, a prevenção do abandono escolar e a melhoria da qualidade das aprendizagens."
A conclusão, embora absurda, é clara: se eu estivesse apenas no 9º escalão, e com os mesmos pontos, seria considerado um docente altamente qualificado, com mais experiência, mais formação e mais autoridade. Como estou no 10º escalão, e não atingindo os 95 pontos, eu já não sou nada.
Isto é o resultado de uma selecção feita com base na "(...) aplicação de uma grelha de critérios objectivos, observáveis e quantificáveis, com ponderações que permitam distinguir as experiências profissionais mais relevantes (...)[onde se procurou] reduzir ao mínimo as margens de subjectividade e de discricionariedade na apreciação do currículo dos candidatos, reafirmando-se o objectivo de valorizar e dar prioridade na classificação aos professores que têm dado provas de maior disponibilidade para assumir funções de responsabilidade." É assim que "reza" o DL 200/2007, de 22 de Maio. Admirável!
Agora consta-se por aí (e por aqui) que aquele professor (coordenador do meu departamento) me irá avaliar...
Não, isso não será verdade. Esse professor irá, provavelmente, fazer de conta que avalia, porque só pode avaliar quem sabe, quem for mais competente do que aquele que se pretende avaliar.
O título de "titular" não é, só por si, suficiente. Mesmo que isto seja só para fazer de conta...
Conhecidos que são os meus interesses, passo ao principal objectivo desta carta, que é, simplesmente, pedir perdão! Pedir perdão, em primeiro lugar, aos meus alunos. Pedir perdão a todos os Pais dos meus alunos. Pedir perdão porque estou de professor, mas sem me sentir professor. Tal como milhares de colegas, humilhados e desencorajados, sinto-me transformado num funcionário inútil, à espera da aposentação.
Ninguém consegue ser bom professor sem um mínimo de dignidade. Ninguém consegue ser bom professor sem um mínimo de paixão.
As minhas aulas eram, outrora, coloridas, vivas e muito participadas. Com acetatos, diaporamas, vídeos, powerpoints, etc. Hoje é, apenas, o giz e o quadro. Só a preto e branco, com alguns cinzentos à mistura.
Sinto-me desmotivado, incapaz de me empenhar e de estimular. Receio vir a odiar a sala de aulas e a própria escola. Receio começar a faltar para imitar o professor titular e coordenador do meu departamento (só não irei passar férias para a República Dominicana porque tenho outras prioridades...). Receio que os professores deste País comecem a fingir que ensinam e a fingir que avaliam. Sim, porque neste país já tudo me parece a fingir.

Cumprimentos.

(Um professor anónimo e humilhado, tal como milhares de outros professores)"

So far, so good!

Duas semanas depois do início do ano lectivo, o balanço é positivo. Vamos a ver o que direi daqui por dois meses e meio... Para já a minha turma é simpática, estou a gostar daqueles meninos. Têm problemas de aprendizagem alguns deles, outros falta de hábitos de trabalho e organização, mas com isso eu seu lidar bastante bem. O que me tira do sério é o mau comportamento.
O meu horário é muito bom, tenho dois dias pesados, mas três tardes em casa. Assim não preciso de trabalhar de noite, como nos três anos anteriores.
O que me está a custar é ver os colegas de há vinte anos a desaparecerem da escola. Neste momento já mais quatro pediram a reforma, já estão em casa e estão óptimos! Todos os nossos reformados vão à escola com muita frequência ver os que ainda estão de "castigo" como eu e aparecem com um ar radioso e com óptimo aspecto! Espero que me aconteça o mesmo daqui por um anito.

terça-feira, setembro 02, 2008

Novos Reformados do Jardim

O Feliz, que a partir de agora passa a ser duplamente feliz, e a Josefina, que vai poder dedicar às suas flores e à Ikebana todo o tempo do mundo! Felicidades para os dois.
Se Deus quiser, iremos fazer-vos companhia dentro em breve.

GUIA "COMO IMPRESSIONAR NAS REUNIÕES QUE REQUEREM PARTICIPAÇÃO ACTIVA, QUANDO NINGUÉM VAI PRESTAR MUITA ATENÇÃO AO QUE DISSER "

Em execução. Postagem diferida. Prometemos ser rápidos.