domingo, setembro 28, 2008

Leitura de Verão-2008

Protocolo de Quioto
Japão 1997

“O que aconteceu em Quioto foi que a maior parte dos países desenvolvidos assumiu o compromisso solene de, até 2012, reduzir as emissões globais de dióxido de carbono para valores inferiores aos de 1990. Havia sinais de que o planeta estava a aquecer devido à queima de combustíveis fósseis* e Quioto assinalou a vontade internacional de controlar a situação. (…)
Mas houve alguns peritos que participaram nessa conferência e que se aperceberam de que tudo aquilo não passava de fachada. Por pequenos pormenores de conversas entre delegações e pela forma como cada delegação enunciava generosas intenções gerais, mas evitava comprometer-se em medidas específicas que envolvessem custos, esses especialistas chegaram à conclusão de que, na hora da verdade, os políticos iriam roer a corda e adiar o problemas, atirá-lo para os seus sucessores (…). É que o essencial dos cortes das emissões de dióxido de carbono recaiu sobre o mundo industrializado. A União Europeia comprometeu-se a reduzir as suas emissões em 8%, o Japão em 6% e os Estados Unidos, que são o maior emissor de dióxido de carbono, em 7%. (…)
Havia três problemas.
O primeiro é que os Americanos não se atreviam a enfrentar os interesses instalados. Cortar na emissão de dióxido de carbono significa atacar três indústrias de grande importância na América: a indústria petrolífera, a indústria automóvel e a indústria do carvão.
O segundo era aqui na Rússia. O aquecimento global é uma catástrofe para muitos países, mas não para este. Aqui na Sibéria, por exemplo, os Invernos moderados e curtos só têm vantagens agrícolas. Além disso se a tundra** derreter, será mais fácil e barato explorar o petróleo russo do Árctico. O gelo fica mais fino e as perfurações tornam-se mais simples. Ora o petróleo corresponde a um terço das exportações da Rússia, pelo que este país, que é o terceiro maior emissor mundial de dióxido de carbono, não tem interesse nenhum em pôr fim ao aquecimento do planeta.
Mas havia ainda um terceiro problema. Quioto conferiu muitas obrigações ao mundo industrializado, que é quem emite a maior parte do dióxido de carbono, mas ignorou os países em vias de desenvolvimento. (…)
Acontece que achina e a Índia estão determinadas a quebrar as barreiras do desenvolvimento. Durante décadas, a China de Mao Tsé Tung, alimentou um imenso desprezo pela indústria automóvel, que considerava um símbolo da burguesia decadente. Toda a gente andava a pé ou de bicicleta e a pobreza era generalizada. Mas quando Mao desapareceu*** as coisas mudaram. A nova liderança chinesa percebeu que precisava de gerar crescimento económico e o país começou a valorizar o que antes desprezava. Os Chineses produziram e venderam automóveis pela primeira vez em 2002, entrando num tal frenesim consumista que a General Motors previu que um quinto da sua produção iria ser canalizada para o mercado chinês, ao ponto de o país ter agora sete das dez cidades mais poluídas do mundo. Milhões e milhões de chineses consideram agora que ter um automóvel é um símbolo de estatuto social. São mais de mil milhões de pessoas a querer andar de automóvel, são mais de mil milhões de pessoas a querer consumir combustível, são mais de mil milhões de pessoas a emitir enormes quantidades de dióxido de carbono para a atmosfera. A China já ultrapassou os países industrializados na procura de electricidade e de combustíveis industriais e o país é, neste momento, o segundo maior consumidor de energia do mundo. (…) Agora junta à China todos os países que se querem desenvolver. Junta a Índia, a Rússia e a América Latina. Todos a quererem automóveis, frigoríficos, ar condicionado, televisores…tudo! Imagina o impacto que isto tem na produção de calor e no consumo dos recursos energéticos existentes. Nós caminhamos alegremente para a catástrofe, aceleramos na auto-estrada do suicídio e nem sequer nos apercebemos disso.


O Aquecimento Global

O aquecimento dos últimos cinquenta anos duplicou de intensidade em relação aos últimos cem anos e o nível do mar subiu dezassete centímetros no século XX. Chove mais no Leste do continente americano e no Norte da Europa e chove menos no Sul da Europa, em África e na Ásia. Desde a década de 1970 que aumentou a actividade dos ciclones no Atlântico Norte e em 2005 apareceu o primeiro furacão na costa ocidental da Europa, o Vince, que entrou no Norte de Portugal já como tempestade tropical. Desde que há registos meteorológicos, nunca se tinha visto um furacão nessas paragens. E o mesmo se passa no Atlântico Sul. Um furacão chamado Catarina cruzou a costa brasileira em 2004, um fenómeno tão inédito que os meteorologistas brasileiros levaram algum tempo a acreditar no que as fotografias por satélite lhes mostravam. E o pior é que o clima poderá estar à beira de cruzar um valor crítico. Um valor para lá do qual são desencadeados fenómenos que vão tornar inabitáveis importantes partes do planeta. (…)

A grande maioria dos glaciares está a arder. Os glaciares dos Alpes já perderam cinquenta por cento do seu gelo e os dos Andes triplicaram a velocidade de recuo, diminuindo um quarto da sua superfície em apenas três décadas. A temperatura no solo do Alasca aumentou no século XX entre dois e cinco graus Célsius e nove estações do Árctico registaram subidas da temperatura da superfície da ordem dos cinco graus Célsius. O aquecimento global já provocou a desintegração de cinco das nove plataformas de gelo existentes na Península da Antárctida. A Gronelândia e o planalto tibetano registam fenómenos semelhantes.”

In “ O Sétimo Selo”, José Rodrigues dos Santos

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