Um dia destes colocaram, no placar da Sala dos Professores, uma lista dos nossos nomes com a nova posição na Carreira Docente. Fiquei a saber, Sr.ª Ministra, que para além de um novo escalão que inventou, sou, ao final de quinze anos de serviço, PROFESSORA.Sim, a minha nova categoria, professora! E o que é que fui até agora? Quando, no meu quinto ano de escolaridade, comecei a ter Educação Física, escolhi o meu futuro. Queria ser aquela professora, era aquilo que eu queria fazer o resto da minha vida. Ensinar a brincar, impor regras com jogos, fazer entender que quando vestimos o colete da mesma cor lutamos pelos mesmos objectivos, independentemente de sermos ou não amigos, ciganos, pretos, más companhias, bons ou maus alunos. Compreender que ganhar ou perder é secundário desde que nos tenhamos esforçado por dar o nosso melhor. Aplicar tudo isto na vida quotidiana. Era nova, tinha sonhos...Há catorze anos, quando, segundo a Senhora D. Lurdes Rodrigues, ainda não era professora, participava em visitas de estudo, promovia acampamentos, fazia questão de ter equipas a treinar aos fins-de-semana, entre muitas outras coisas. Os alunos respeitavam-me, os meus colegas admiravam-me, os pais consultavam-me. E eu era feliz. Saía de casa para trabalhar onde gostava, para fazer o que sempre sonhara, para ensinar como tinha aprendido! Agora, Sr.ª Ministra, agora que sou PROFESSORA, que sou obrigada a cumprir 35 horas de trabalho, agora não tenho tempo nem dinheiro para educar os meus filhos. Agora, porque resolveu mudar as regras a meio (coisa que não se faz, nem aos alunos crianças!), estou a adaptar-me, não tenho outro remédio: entrego os meus filhos a trabalhadores revoltados naesperança que façam com eles o que eu tento fazer com os deles. Agora que me intitula professora eu não ensino a lançar ao cesto ou a rematar com precisão à baliza, não chego,sequer a vestir-lhes os coletes.Passo aulas inteiras a tentar que formem fila ou uma roda, a ensinar que enquanto um "burro" mais velho fala os outros devem, pelo menos, nessa altura, estar calados. Passo o tempo útil de uma aula prática a mandar deitar as pastilhas elásticas fora (o que não deixa de ser prática) e a explicar-lhes que quando eu queria dizer deitar fora a pastilha não era para a cuspirem no chão do Pavilhão. E aqueles que se recusam a deitá-la fora porque ainda não perdeu o sabor? (Coitados, afinal acabaram de gastar o dinheiro no bar que fica em frente à Escola para tirarem o cheiro do cigarro que o mesmo bar lhes vendeu e nunca ninguém lhes explicou o perigo que há ao mascar uma pastilha enquanto praticam exercício físico). E os que não tomam banho? E os que roubam ou agridem os colegas no balneário? Falta disciplinar? Desculpe, não marco! O aluno faz a asneira, e eu é que sou castigada? Tenho que escrever a participação ao Director de Turma, tenho que reunir depois das aulas (e quem fica com os meus filhos?). Já percebeu a burocracia a que nos obriga? Já viu o tempo que demora a dar o castigo ao aluno? Mas isto é apenas um desabafo, gosto de falar, discutir, argumentar com quem está no terreno e percebe, minimamente do que se fala, o que não é, com toda a certeza, o seu caso. Bastava-lhe uma hora com o meu 5ºC. Uma hora! E eu não precisava de ter escrito tanto! E a Sra. Ministra entendia por que não conseguirei trabalhar até aos 65 anos, por que é injusto o que ganho e o que congelou, por que pode sair a sexta e até a sétima versão do ECD que eu nunca serei tão boa professora como era antes de mo chamar! Ana Luísa Esperança (PQND da Escola EB 2,3 Dr. Pedro Barbosa ) Viana do Castelo Ana Luísa, cara colega,a tua revolta é a de todos nós! A prepotência e má-fé desta ministrinha também amarfanharam o orgulho que eu sentia, até há 36 anos, de ser professora. Também nunca quis (nem sei) ser outra coisa...Mas em final de carreira, quando devia ser reformada, esqueceram-se daqueles tais direitos adquiridos que o Sr. Vítor Constâncio invocou a propósito dos seus chorudos vencimentos e castigaram-me com mais 7 anos de serviço!!! A culpa é toda minha, claro! Quem se lembraria de começar a dar aulas aos 19 anos, casar, ter filhos, dar aulas e acabar uma licenciatura aos 25 e ter feito sempre o seu melhor pelos seus alunos até aos 57? O melhor sim, porque eu sempre fui e continuo a ser uma boa Professora, ainda que passe a ser daqui a uns dias Titular. Nada de falsas modéstias! Este orgulho essa mulher não me tira. Basta que me tenha tiradoa categoria, que eu legitimamente já tinha como certa, de "professora reformada". |
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