sábado, agosto 26, 2006

Outro Ano

Fim de férias! Só mais uma semana e aí vamos nós para mais um ano de calmarias e tempestades.

Em Julho,já em período de "recuperação", li um livro de Rosa Lobato Faria - "Os Pássaros de Seda". Talvez por deformação profissional, associei uma passagem do livro à nossa vida de professores.Não sei se para outros a ligação é evidente, mas para nós é certamente!

Era uma história que um dos personagens, um homem já idoso, contava a duas crianças e dizia assim:

" Era uma vez um catraio que cegava a mãe com tanta tropelia e diabrura.

Ia a banhar-se no rio e obrigava o seu anjo da guarda a molhar as saias para tirá-lo de lá, ia a empoleirar-se no mais alto das árvores e lá tinha o anjo de bater as asas para o pousar em terra firme, ia para a linha do comboio e lá ficava o anjo com os canudos em palmito para pescá-lo da ventania da máquina, ia a meter-se na boca do lobo e tinha o anjo de acender a auréola para assustar o bicho, até que um dia disse ao catraio:

- Vê se me dás descanso que eu tenho vinte mil anos e estou esfalfado da correria em que me fazes andar. Vê se cresces, moço, que um anjo não é de pau!

O moço pouco melhorou, andou o anjo naquela estafadeira anos e anos até que o moço cresceu e deu de se apaixonar por uma feiticeira que atraía os homens e os comia e deitava os restos às suas hienas gargalhosas (adorei!).Quando o moço ia a entrar na sua gruta o anjo perdeu a compostura e começou a dar-lhe carolos e a gritar:

- Se entras aí não te posso valer, que essa mulher tem parte com o diabo e aqui à porta se acaba o meu poder.

Mas ela saiu a esperá-lo, era tão linda que até o anjo estremeceu na sua alvura, levou o moço para dentro e o pobre guardião ficou à porta a arrepelar os caracóis em desespero. Passada a noite, a feiticeira deitou fora os pedaços do moço que lhe sobraram e antes que viessem as hienas gargalhosas, o anjo ali o costurou, já não era o moço de antigamente, faltava-lhe a melhor parte da carne, mas ainda mexia e disse ao anjo:

- Bendito por me protegeres e me coseres os bocados, mas em verdade te digo,se não tivesse ido lá de rojo a conhecer o diabo em forma de mulher, não te conhecia agora a bondade em forma de anjo.

E seguiram o seu caminho e nunca mais se desavieram."

Foi assim que me lembrei da S., da D., da E.,do R.e do outro R., do A., do D., do F., do X,do Y... e dos seus anjos da guarda (e anjos coadjuvantes), que tantas vezes ficaram com os caracóis em desespero e que em desespero de causa quase perdiam a compostura e tinham ânsias de lhes dar uns carolos ( mas não davam ) para evitar que entrassem pelas grutas escuras e solitárias da vida.

Também foi assim que me lembrei do C., do M., da N., do R., e, felizmente, de muitos, muitos outros que encontraram o rumo certo.


Sem comentários: